quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Exercícios 3º Ano - Prosa contemporânea



1) A prosa contemporânea brasileira se desmembra em diversas vertentes eu coexistem e fazem parte da liberdade e diversidade presente nesse momento. Cite-as e relacione com o contexto em que foram produzidas.

2) O gênero literário mais presente nesse movimento foi o conto. O que é e por que esse gênero se consolidou como principal meio de produção textual?

3) Analise o conto abaixo de Rubem Fonseca e pontue as características presentes em sua prosa.

O Outro

Rubem Fonseca


Eu chegava todo dia no meu escritório às oito e trinta da manhã. O carro parava na porta do prédio e eu saltava, andava dez ou quinze passos, e entrava.

Como todo executivo, eu passava as manhãs dando telefone­mas, lendo memorandos, ditando cartas à minha secretária e me exasperando com problemas. Quando chegava a hora do almoço, eu havia trabalhado duramente. Mas sempre tinha a impressão de que não havia feito nada de útil.

Almoçava em uma hora, às vezes uma hora e meia, num dos restaurantes das proximidades, e voltava para o escritório. Havia dias em que eu falava mais de cinqüenta vezes ao telefone. As cartas eram tantas que a minha secretária, ou um dos assistentes, assinava por mim. E, sempre, no fim do dia, eu tinha a impressão de que não havia feito tudo o que precisava ser feito. Corria contra o tempo. Quando havia um feriado, no meio da semana, eu me irritava, pois era menos tempo que eu tinha. Levava diariamente trabalho para casa, em casa podia produzir melhor, o telefone não me chamava tanto.

Um dia comecei a sentir uma forte taquicardia. Aliás, nesse mesmo dia, ao chegar pela manhã ao escritório surgiu ao meu lado, na calçada, um sujeito que me acompanhou até a porta dizendo "doutor, doutor, será que o senhor podia me ajudar?". Dei uns trocados a ele e entrei. Pouco de­pois, quando estava falando ao telefone para São Paulo, o meu coração disparou. Durante alguns minutos ele bateu num ritmo fortíssimo, me deixando extenuado. Tive que deitar no sofá, até passar. Eu estava tonto, suava muito, quase desmaiei.

Nessa mesma tarde fui ao cardiologista. Ele me fez um exame minucioso, inclusive um eletrocardiograma de esforço, e, no final, disse que eu precisava diminuir de peso e mudar de vida. Achei graça. Então, ele recomendou que eu parasse de trabalhar por algum tempo, mas eu disse que isso, também, era impossível. Afinal, me prescreveu um regime alimentar e mandou que eu caminhasse pelo menos duas vezes por dia.

No dia seguinte, na hora do almoço, quando fui dar a caminhada receitada pelo médico, o mesmo sujeito da véspera me fez parar pedindo dinheiro. Era um homem branco, forte, de cabelos castanhos compridos. Dei a ele algum dinheiro e prossegui.

O médico havia dito, com franqueza, que se eu não tomasse cuidado poderia a qualquer momento ter um enfarte. Tomei dois tranqüilizantes, naquele dia, mas isso não foi suficiente para me deixar totalmente livre da tensão. À noite não levei trabalho para casa. Mas o tempo não passava. Tentei ler um livro, mas a minha atenção estava em outra parte, no escritório. Liguei a televisão mas não consegui agüentar mais de dez minutos. Voltei da minha caminhada, depois do jantar, e fiquei impaciente sentado numa poltrona, lendo os jornais, irritado.}

Na hora do almoço o mesmo sujeito emparelhou comigo, pedindo dinheiro. "Mas todo dia?", perguntei. "Doutor", ele respondeu, "minha mãe está morrendo, precisando de remédio, não conheço ninguém bom no mundo, só o senhor." Dei a ele cem cruzeiros.

Durante alguns dias o sujeito sumiu. Um dia, na hora do almoço, eu estava caminhando quando ele apareceu subitamente ao meu lado. "Doutor, minha mãe morreu”. Sem parar, e apressando o passo, respondi, "sinto muito". Ele alargou as suas passadas, mantendo-se ao meu lado, e disse "morreu". Tentei me desvencilhar dele e comecei a andar rapidamente, quase correndo. Mas ele correu atrás de mim, dizendo "morreu, morreu, morreu", estendendo os dois braços contraídos numa expectativa de esforço, como se fossem colocar o caixão da mãe sobre as palmas de suas mãos. Afinal, parei ofegante e perguntei, "quanto é?". Por cinco mil cruzeiros ele enterrava a mãe. Não sei por que, tirei um talão de cheques do bolso e fiz ali, em pé na rua, um cheque naquela quantia. Minhas mãos tremiam. "Agora chega!”, eu disse.

No dia seguinte eu não saí para dar a minha volta. Almocei no escritório. Foi um dia terrível, em que tudo dava errado: papéis não foram encontrados nos arquivos, uma importante concorrência foi perdida por diferença mínima; um erro no planejamento financeiro exigiu que novos e complexos cálculos orçamentários tivessem que ser elaborados em regime de urgência. À noite, mesmo com os tranqüilizantes, mal consegui dormir.

De manhã fui para o escritório e, de certa forma, as coisas melhoraram um pouco. Ao meio-dia saí para dar a minha volta.

Vi que o sujeito que me pedia dinheiro estava em pé, meio escondido na esquina, me espreitando, esperando eu passar. Dei a volta e caminhei em sentido contrario. Pouco depois ouvi o barulho de saltos de sapatos batendo na calçada como se alguém estivesse correndo atrás de mim. Apressei o passo, sentindo um aperto no coração, era como se eu estivesse sendo perseguido por alguém, um sentimento infantil de medo contra o qual tentei lutar, mas neste instante ele chegou ao meu lado, dizendo, "doutor, doutor". Sem parar, eu perguntei, "agora o quê?". Mantendo-se ao meu lado, ele disse, "doutor, o senhor tem que me ajudar, não tenho ninguém no mundo". Respondi com toda autoridade que pude colocar na voz, "arranje um emprego". Ele disse, "eu não sei fazer nada, o senhor tem que me ajudar". Corríamos pela rua. Eu tinha a impressão de que as pessoas nos observavam com estranheza. "Não tenho que ajudá-lo coisa alguma", respondi. "Tem sim, senão o senhor não sabe o que pode acontecer", e ele me segurou pelo braço e me olhou, e pela primeira vez vi bem como era o seu rosto, cínico e vingativo. Meu coração batia, de nervoso e cansaço. "É a última vez", eu disse, parando e dando dinheiro para ele, não sei quanto.

Mas não foi a última vez. Todos os dias ele surgia, repentina­mente, súplice e ameaçador, caminhando ao meu lado, arruinando a minha saúde, dizendo é a última vez doutor, mas nunca era. Minha pressão subiu ainda mais, meu coração explodia só de pensar nele. Eu não queria mais ver aquele sujeito, que culpa eu tinha de ele ser pobre?

Resolvi parar de trabalhar uns tempos. Falei com os meus colegas de diretoria, que concordaram com a minha ausência por dois meses.

A primeira semana foi difícil. Não é simples parar de repente de trabalhar. Eu me senti perdido, sem saber o que fazer. Mas aos poucos fui me acostumando. Meu apetite aumentou. Passei a dormir melhor e a fumar menos. Via televisão, lia, dormia depois do almoço e andava o dobro do que andava antes, sentindo-me ótimo. Eu estava me tornando um homem tranqüilo e pensando seriamente em mudar de vida, parar de trabalhar tanto.

Um dia saí para o meu passeio habitual quando ele, o pedinte, surgiu inesperadamente. Inferno, como foi que ele descobriu o meu endereço? "Doutor, não me abandone!" Sua voz era de mágoa e ressentimento. "Só tenho o senhor no mundo, não faça isso de novo comigo, estou precisando de um dinheiro, esta é a última vez, eu juro!" — e ele encostou o seu corpo bem junto ao meu, enquanto caminhávamos, e eu podia sentir o seu hálito azedo e podre de faminto. Ele era mais alto do que eu, forte e ameaçador.

Fui na direção da minha casa, ele me acompanhando, o rosto fixo virado para o meu, me vigiando curioso, desconfiado, implacável, até que chegamos na minha casa. Eu disse, "espere aqui".

Fechei a porta, fui ao meu quarto. Voltei, abri a porta e ele ao me ver disse "não faça isso, doutor, só tenho o senhor no mundo". Não acabou de falar ou se falou eu não ouvi, com o barulho do tiro. Ele caiu no chão, então vi que era um menino franzino, de espinhas no rosto e de uma palidez tão grande que nem mesmo o sangue, que foi cobrindo a sua face, conseguia esconder.


Texto publicado no livro "Contos Reunidos", Companhia das Letras — São Paulo, 1994, e extraído de "Contos para um Natal brasileiro", Relume-Dumará/IBASE - Rio de Janeiro, 1996, pág. 37.

4) Elenque as principais características de cada autor contemporâneo citado na apostila.
São eles: Rubem Fonseca, João Antonio, Dalton Trevisan e Lygia Fagundes Telles;

5) Releia o conto Herbarium de Lygia Fagundes Tellles e faça uma breve análise. Pontue elementos linguísticos, estilísticos e seu entendimento acerca do conto.

*As respostas serão divulgadas até amanhã, mediante comprovação da realização das atividades por, no mínimo, 40% dos alunos da turma. Enviem as respostas para o email: kyka.melo@gmail.com
Aguardo...

Resumão Modernismo para prova

No século XX, surgiu um movimento que queria renovar o estilo da Literatura, rompendo com a Literatura tradicional do século XIX (Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo), buscando, assim, inovações modernas para o novo século: é o Modernismo (antes houve um momento de transição chamado de Pré-Modernismo). Os modernistas queriam uma Literatura livre, sem "fórmulas" e sem regras, sem palavras cultas e formais demais, sem o rebuscamento do vocabulário, sem a cultura tradicional e acadêmica.

O Modernismo no Brasil começou com a Semana de Arte Moderna de 1922, que foi a reunião de vários artistas (pintura, literatura, música, arquitetura, escultura, etc) de várias tendências artísticas que buscavam renovar as artes, difundindo suas ideias e rompendo, assim, com a cultura tradicional e conservadora do século XIX.

O Modernismo teve três fases (gerações):

1ª Geração Modernista (1922 - 1930)

Os principais nomes dessa geração foram: Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Mário de Andrade,

As principais características dessa geração foram: linguagem livre (poesia sem regras de rima e de métrica),linguagem coloquial (livre de formalismos e de palavras cultas), gírias e até erros gramaticais (porque os erros de gramática e a linguagem coloquial é a linguagem usada pelos brasileiros). Temas tratados com irreverência e ironia(bom-humor, piada, paródia), temas inspirados no cotidiano das pessoas e poemas "relâmpagos" (curtíssimos e breves).

Claro que tudo isso irritava os mais conservadores e tradicionais.

Exemplo de texto modernista da primeira geração:

Pronominais (Oswald de Andrade)

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

Observe que: não existe rima, nem métrica, nem formalismos. A linguagem é coloquial e também é impregnada de irreverência e ironia. Não há preocupação com erros de português. Enquanto que a gramática diz que o correto é "dê-me", o poeta zomba da gramática e escreve "me dá". Ele está mais interessado na gramática coloquial que é usada no cotidiano das pessoas, ou seja: o poeta prefere a modalidade linguística mais adequada à realidade brasileira.

Em outras palavras: "que se dane a gramática e os velhos conservadores do século passado, isso aqui é Modernismo, pô!".
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Resumo obra "MACUNAÍMA" de Mario de Andrade

Macunaíma, índio da tribo tapanhumas, nasce as margens do rio Uraricoera, na Amazônia. Vive com os irmãos Maanape e Jinguê, até a morte da mãe, quando os três partem em busca de aventuras. O herói encontra Ci, Mãe do Mato, rainha das Icamiabas, tribo de amazonas, faz dela sua mulher e torna-se Imperador do Mato-Virgem. Ci dá à luz um filho, mas ele morre e ela também, logo em seguida.

Antes de virar estrela no céu, ela dá a Macunaíma um amuleto, a muiraquitã (uma pedra verde em forma de lagarto), que o herói perde e vai parar nas mãos de Venceslau Pietro Pietra, o gigante Piaimã comedor de gente, que mora em São Paulo.

Macunaíma e seus irmãos descem para a cidade grande para tentar recuperar a muiraquitã. Em São Paulo, assistimos à descoberta da civilização industrial por Macunaíma e suas lutas contra o gigante até recuperar o amuleto. Quando o herói consegue a façanha, retorna para o Uraricoera. Lá, sofrera a perda dos irmãos e a vingança de Vei, a deusa do sol.

Vei havia oferecido a Macunaíma uma de suas filhas em casamento, quando ele visitara o Rio de Janeiro. O herói fez um trato com ela de não andar mais atrás de mulher nenhuma, mas assim que fica sozinho, corre atrás de uma portuguesa.

Para se vingar, no final do livro, Vei faz Macunaíma sentir um forte calor, que desperta seus insaciáveis desejos sexuais; então, lança-o nos braços de uma Uiara, monstro disfarçado de bela mulher que habita o fundo dos lagos. O herói é destroçado e perde definitivamente a muiraquitã. Cansado de tudo, Macunaíma vai para o céu transformado na Constelação da Ursa Maior.

Resumo sobre o Barroco.

O Barroco foi o período da Literatura Brasileira que se iniciou nos anos 1600, vindo depois do Quinhentismo (por isso pode ser chamado também de Seiscentismo).

Características que você precisa saber:

Dualidades e Antíteses

Conflito entre o corpo e a alma, a vida terrena e a vida eterna, a vida virtuosa e a vida do pecado, a vida e a morte, a razão e a fé. É o conflito entre os princípios cristãos da Igreja Católica e os princípios do Renascimento e do Classicismo (paganismo, racionalismo, antropocentrismo). O Barroco é uma época de conflitos de princípios opostos, é a época das antíteses, é a época em que se tenta conciliar o inconciliável. A Igreja Católica reage à Reforma Protestante com a Contrarreforma e com a Inquisição, procurando reprimir as manifestações culturais que vão contra as suas doutrinas. Portanto, esse é um período de contradições e de dualidades, onde o homem se vê perdido entre a doutrina cristã e as ideias do Renascimento (Classicismo).

Cultismo e Conceptismo

O homem barroco valoriza o cultismo, ou seja: a linguagem difícil e rebuscada, cheia de inversões e de jogo de palavras, empregando demais as figuras de linguagem. Ele também valoriza o conceptismo, que está associado ao pensamento complexo, ao raciocínio lógico, ao jogo de ideias. Ou seja: as palavras são rebuscadas e difíceis (cultismo) e as ideias e o raciocínio são complexos (conceptismo). 

O Tempo (Carpe Diem)

O tempo passa rápido, a vida é efêmera (é rápida), o tempo é veloz e destrói tudo. Tudo é instável e passageiro. O homem barroco vive esse conflito de modo angustiado.

Barroco em Portugal: Pe. Antônio Vieira.

No Barroco Português, quem se destaca é o padre Antônio Vieira. Seus sermões estavam a serviço das causas políticas que abraçava e defendia. Defendia os índios contra a escravidão (mas não tinha a mesma postura com a escravização dos negros, limitando a apontar-lhes uma perspectiva de vida após a morte que compensasse os sofrimentos da vida). Seus sermões eram dotados de raciocínios complexos e lógicos, com metáforas, comparações e alegorias (um discurso que faz entender outro; exemplo: "semeadura" ou "semente do trigo" são alegorias que representam uma coisa só: a disseminação da doutrina cristã).

Barroco no Brasil: Gregório de Matos

No Barroco brasileiro, o grande destaque foi Gregório de Matos. Por ser irreverente e satírico ele recebeu o apelido de "Boca do Inferno". Sua poesia pode ser classificada como lírica, religiosa, filosófica ou satírica. 


Poesia Lírica: dualismo amoroso (carne X espírito), que leva a um sentimento de culpa cristão. A mulher é a personificação do pecado e da perdição espiritual (morte). O apelo sensorial do corpo se contrapõe ao ideal religioso. O poeta fica dividido entre o pecado (representado na mulher) e o espírito (cristianismo). 


Poesia Religiosa: obedece aos fundamentos do Barroco europeu. Temas: amor a Deus, culpa, arrependimento, pecado, perdão. Linguagem culta, com inversões e muitas figuras de linguagem. 


Poesia Filosófica: desconcerto do mundo, consciência da transitoriedade da vida e do tempo (carpe diem). 


Poesia Satírica: Criticou todas as classes da sociedade baiana de seu tempo. Linguagem diversificada, com termos indígenas, africanos, palavrões, gírias e expressões locais.

O barroco brasileiro é associado claramente à religião católica. Em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco encontram-se os mais belos trabalhos de relevo em madeira - as talhas - e esculturas em pedra sabão. Já nas regiões mais pobres, onde não havia o comércio de açúcar e ouro, a arquitetura das igrejas apresentava aparência mais modesta, assim como as residências, chafarizes, câmaras municipais etc. 
Um dos principais artistas dessa época foi Aleijadinho (Antonio Francisco Lisboa), cujas obras estão na região de Minas Gerais e seus entalhes em pedra sabão são consideradas obras primas.

*Não se esqueçam de realizar a leitura da apostila a fim de complementar o estudo.

Exercícios Barroco

Resolvam os exercícios e levem o gabarito para mim na sexta-feira. Além de marcar a alternativa correta, quero que justifiquem o porquê de estarem corretas.
Não aceitarei respostas sem fundamentação no conteúdo!
Atividade Avaliativa. Para entregar dia 28.

1. (UMCP-SP) O culto do contraste, pessimismo, acumulação de elementos, niilismo temático, tendência para a descrição e preferência pelos aspectos cruéis, dolorosos, sangrentos e repugnantes, são características do:
  1. Barroco
  2. Realismo
  3. Rococó
  4. Naturalismo
  5. Romantismo
2. (F.C. Chagas-BA) Assinale o texto que, pela linguagem e pelas ideias, pode ser considerado como representante da corrente barroca.
  1. "Brando e meigo sorriso se deslizava em seus lábios; os negros caracóis de suas belas madeixas brincavam, mercê do Zéfiro, sobre suas faces... e ela também suspirava."
  2. "Estiadas amáveis iluminavam instantes de céus sobre ruas molhadas de pipilos nos arbustos dos squares. Mas a abóbada de garoa desabava os quarteirões."
  3. "Os sinos repicavam numa impaciência alegre. Padre Antônio continuou a caminhar lentamente, pensando que cem vezes estivera a cair, cedendo à fatalidade da herança e à influência do meio que o arrastavam para o pecado."
  4. "De súbito, porém, as lancinantes incertezas, as brumosas noites pesadas de tanta agonia, de tanto pavor de morte, desfaziam-se, desapareciam completamente como os tênues vapores de um letargo..."
  5. "Ah! Peixes, quantas invejas vos tenho a essa natural irregularidade! A vossa bruteza é melhor que o meu alvedrio. Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as palavras: eu lembro-me, mas vós não ofendeis a Deus com a memória: eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento: eu quero, mas vós não ofendeis a Deus com a vontade."
3. (FUVEST-SP)
"Nasce o Sol, e não dura mais que um dia.
Depois da luz, se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria."

Na estrofe acima, de um soneto de Gregório de Matos Guerra, a principal característica do Barroco é:
  1. culto da Natureza
  2. a utilização de rimas alternadas
  3. a forte presença de antíteses
  4. culto do amor cortês
  5. uso de aliterações
4. (FUVEST-SP) O bifrontismo do homem, santo e pecador; o impulso pessoal prevalecendo sobre normas ditadas por modelos; o culto do contraste; a riqueza de pormenores – são traços constantes da:
  1. composição poética parnasiana
  2. poesia simbolista
  3. produção poética arcádica de inspiração bucólica
  4. poesia barroca
  5. poesia condoreirista
5. (PUCC-SP)
"Que falta nesta cidade? Verdade.
Que mais por sua desonra? Honra.
Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha."

Pode-se reconhecer nos versos acima, de Gregório de Matos:
  1. caráter de jogo verbal próprio do estilo barroco, a serviço de uma crítica, em tom de sátira, do perfil moral da cidade da Bahia.
  2. caráter de jogo verbal próprio da poesia religiosa do século XVI, sustentando piedosa lamentação pela falta de fé do gentio.
  3. estilo pedagógico da poesia neoclássica, por meio da qual o poeta se investe das funções de um autêntico moralizador.
  4. caráter de jogo verbal próprio do estilo barroco, a serviço da expressão lírica do arrependimento do poeta pecador.
  5. estilo pedagógico da poesia neoclássica, sustentando em tom lírico as reflexões do poeta sobre o perfil moral da cidade da Bahia.
6. (FUVEST-SP) "Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair são os que se contentam com pregar na pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura, e hão-lhes de contar os passos. Ah! dia do juízo! Ah! pregadores! Os de cá, achar-vos-ei com mais paço; os de lá, com mais passos..."

Essa passagem é representativa de uma das tendências estéticas típicas da prosa seiscentista, a saber:
  1. Sebastianismo, isto é, a celebração do mito da volta de D.Sebastião, rei de Portugal, morto na batalha de Alcácer-Quibir.
  2. a busca do exotismo e da aventura ultramarina, presentes nas crônicas e narrativas de viagem.
  3. a exaltação do heróico e do épico, por meio das metáforas grandiloqüentes da epopéia.
  4. lirismo trovadoresco, caracterizado por figuras de estilo passionais e místicas.
  5. Conceptismo, caracterizado pela utilização constante dos recursos da dialética.
7. (UFBA) Assinale a proposição ou proposições em que o poeta Gregório de Matos, afastando-se da proposta estética do Barroco, assume uma postura crítico-satírica ante a realidade e, depois, some os valores.

(01) "Sol de justiça divino/ sois Amor onipotente,/ porque estais continuamente/ no luzimento mais fino:/ porém, Senhor; se o contínuo/ resplandecer se vos deve,/ fazendo um reparo breve/ desse sol no luzimento,/ sois sol, mas no Sacramento/ Com razão divina neve."

(02) "E que justiça a resguarda? .................... Bastarda
É grátis distribuída? ............................. Vendida
Que tem, que a todos assusta? ............. Injusta
Valha-nos Deus, o que custa,/ o que El-Rei nos dá de graça,/ que anda a justiça na praça/ Bastarda, Vendida, Injusta."

(04) "Valha-me Deus, que será/ desta minha triste vida,/ que assim mal logro perdida./ onde, Senhor, parará?/ que conta se me fará/ lá no fim, onde se apura/ o mal, que sempre em mim dura,/ o bem, que nunca abracei,/ os gozos, que desprezei, por uma eterna amargura."

(08) "Entre os nascidos só vós/ por privilégio na vida/ fostes, Senhora, nascida/ isenta da culpa atroz:/ mas se Deus (sabemos nós)/ que pode tudo, o que quer,/ e vos chegou a eleger/ para Mãe sua tão alta,/ impureza, mancha, ou falta/ nunca em vós podia haver."

(16) "O Mercador avarento,/ quando a sua compra estende,/ no que compra, e no que vende,/ tira duzentos por cento:/ não é ele tão jumento,/ que não sabia, que em Lisboa/ se lhe há de dar na gamboa,/ mas comido já o dinheiro/ diz, que a honra está primeiro,/ e que honrado a toda Lei:/ esta é a justiça, que manda El-Rei."

(32) "Senhor Antão de Souza de Meneses,/ Quem sobe a alto lugar, que não merece,/ Homem sobe, asno vai, burro parece,/ Que o subir é desgraça muitas vezes./ A fortunilha autora de entremezes/ Transpõem em burro o Herói, que indigno cresce:/ Desanda a roda, e logo o homem desce,/ Que é discreta a fortuna em seus reveses."

(64) "De um barro frágil, e vil,/ Senhor, o homem formastes,/ cuja obra exagerastes/ por engenhosa, e sutil:/ graças vos dou mil a mil,/ pois em conhecido aumento/; tem meu ser o fundamento/ na razão, em que se estriba,/ se infundis alma viva,/ que muito, que vivo alento."

8. (FEBASP-SP)
"Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres... O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas que levam, de que eu trato, são os outros - ladrões de maior calibre e de mais alta esfera... Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes, sem temor nem perigo; os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam." (Sermão do bom ladrão, Pe. Antonio Vieira)
Em relação ao estilo empregado por Vieira neste trecho, pode-se afirmar:
  1. autor recorre ao Cultismo da linguagem com o intuito de convencer o ouvinte e por isto cria um jogo de imagens.
  2. Vieira recorre ao preciosismo da linguagem, isto é, através de fatos corriqueiros, cotidianos, procura converter o ouvinte.
  3. Padre vieira emprega, principalmente, o Conceptismo, ou seja, o predomínio das idéias, da lógica, do raciocínio.
  4. pregador procura ensinar preceitos religiosos ao ouvinte, o que era prática comum entre os escritores gongóricos.
9. (USF-SP)
"Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,
Te lembra hoje Deus por sua Igreja;
De pó te fez espelho, em que se veja
A vil matéria, de que quis formar-te".

Conforme sugere o excerto acima, o poeta barroco não raro expressa:
  1. medo de ser infeliz; uma imensa angústia em face da vida, a que não consegue dar sentido; a desilusão diante da falência de valores terrenos e divinos.
  2. a consciência de que o mundo terreno é efêmero e vão; o sentimento de nulidade diante do poder divino.
  3. a percepção de que não há saídas para o homem; a certeza de que o aguardam o inferno e a desgraça espiritual.
  4. a necessidade de ser piedoso e caritativo, paralela à vontade de fruir até as últimas conseqüências o lado material da vida.
  5. a revolta contra os aspectos fatais que os deuses imprimem a seu destino e à vida na terra.
10. (F.Objetivo-SP) Sobre cultismo e conceptismo, os dois aspectos construtivos do Barroco, assinale a única alternativa incorreta.
  1. o cultismo opera através de analogias sensoriais, valorizando a identificação dos seres por metáforas. O conceptismo valoriza a atitude intelectual, a argumentação.
  2. cultismo e conceptismo são partes construtivas do Barroco que não se excluem. É possível localizar no mesmo autor e até no mesmo texto os dois elementos.
  3. cultismo é perceptível no rebuscamento da linguagem, pelo abuso no emprego de figuras semânticas, sintáticas e sonoras. O conceptismo valoriza a atitude intelectual, o que se concretiza no discurso pelo emprego de sofismas, silogismos, paradoxos.
  4. cultismo na Espanha, Portugal e Brasil é também conhecido como Gongorismo e seu mais ardente defensor, entre nós, foi o Pe. Antônio Vieira, que, no Sermão da sexagésima, propõe a primazia da palavra sobre a ideia.
  5. Os métodos cultistas mais seguidos por nossos poetas foram os de Gôngora e Marini, e o conceptismo de Quevedo foi o que maiores influências deixou em Gregório de Matos.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Prosa Contemporânea Brasileira - Breve resumo

Quanto à padrões estilísticos e temas, a prosa contemporânea segue aberta e livre de categorizações enquanto escola literária. Diferente dos demais movimentos literários, a contemporaneidade surge com a mesma "sede" de inovação impulsionada pelas Vanguardas Europeias, que culminaram na Semana da Arte Moderna.
No cenário sócio-histórico-cultural, o país vivenciava momentos de tensão, repressão e insegurança, uma vez que nas décadas de 60 a 80, o Brasil passava pelo Regime Militar. Nesse contexto de sufocamento das Artes em geral, a Literatura se fez marginal, revolucionária e buscava refletir em seu âmago todos esses sentimentos reprimidos pela censura.
Assim, os temas trabalhados e ilustrados nesse período passaram a ser diversos e voltados para a questão da sociedade em si. Surge então histórias baseadas na realidade violenta, em personagens marginalizados, em problemas cotidianos bem como a natureza do ser humano frente às diversas situações correntes em sua existência. Os contos predominam a produção escrita nesse período.
Como já mencionado, os escritores desse movimento não mantiveram padrões estéticos semelhantes em suas produções, o que acabou por gerar algumas vertentes distintas que figuravam o cenário literário da época.
Dentre as mais recorrentes, pode-se citar a vertente brutalista, cuja preocupação era expor e apresentar de forma impactante a violência dos centros urbanos bem como a condição marginalizada da classe menos favorecida. Sua linguagem é bem próxima à oralidade e sua construção textual é pobre em adjetivos e permeada por frases curtas. Como principais representantes, temos Rubem Fonseca e João Antonio.
Temos ainda os romances históricos, que se sobressaíram como reflexo do Golpe militar de 1964, cujos tema era a repressão e as torturas vivenciadas pelos grupos reacionários. Como exemplo dessa vertente, temos Fernando Gabeira, que em seu livro, "O que é isso companheiro", descreve bem toda essa luta.
Por fim, têm-se ainda a vertente intimista que se volta para o ser humano enquanto indivíduo subjetivo e ativo no processo de construção de sua imagem perante os conflitos em que é exposto. A prosa de Lygia Fagundes Telles é exemplo dessa tendência.
Importante ressaltar que diversas outras vertentes existiram nesse momento em caráter simultâneo.
(Kyssila Melo Macêdo)

Características de alguns autores

Dalton Trevisan, o polêmico vampiro de Curitiba, apresenta algumas características:
- linguagem elíptica, rápida (conhecido pela introdução dos minicontos em nossa literatura). 
- uso do sexo e da violência extrema. 
- discute sobre o anonimato do homem comum nas grandes cidades. 
- heróis sem heroísmo. 
- personagens perturbados e com moral discutível. 
- os homens são vistos como conquistadores cafajestes. 
- as mulheres aparecem como meros objetos sexuais. Há uma preferências pelas desajustadas: gordas, velhas, feias, prostitutas. 
- uso de linguajar chulo, quase pornográfico.
Lygia escreve investigando os recantos da alma humana , em sondagem psicológica permanente .
-Seus personagens em particular os femininos , são misteriosos e complexos, marcados pela reflexão e pela fragilidade, mais também pela inquietação.
-Procura apresentar com a palavra escrita a realidade envolta na sedução do imaginário e da fantasia.

João Antônio foi o intérprete do submundo, o escritor da marginalidade. Seus personagens são as criaturas que vivem na periferia das grandes cidades e da vida, operários, biscateiros, soldados, crianças abandonadas ou quase, prostitutas, pedintes, homossexuais, jogadores de sinuca, desempregados, gente que se reúne nos cenários da periferia, vilas e favelas com seus botequins, seus campos de pelada e as diversas curriolas do vício e do crime. Rio de Janeiro e São Paulo são apresentados ao leitor não como o cartão postal a que está acostumado, mas no conjunto espantoso de seus contrastes e na extraordinária vibração humana de seu cotidiano. Sua linguagem  é a um só tempo elaborada e malandra, o que a tornaria única na literatura brasileira, não fosse a companhia de Plínio Marcos a trilhar pelo mesmo caminho. Mas, apesar da escrita elaborada, não se espere de seus personagens sentimentos falsos ou esperança de redenção: a realidade é tratada de forma lírica, mas sem dissimular seu lado cruel.

Rubem Fonseca inaugurou uma nova corrente na literatura brasileira contemporânea que ficou conhecida, em 1975 através de Alfredo Bosi, como brutalista. Em seus contos e romances utiliza-se de uma maneira de narrar na qual destacam-se personagens que são ao mesmo tempo narradores. Várias das suas histórias (em especial, os romances) são apresentadas sob a estrutura de uma narrativa policial com fortes elementos de oralidade. O fato de ter atuado como advogado, aprendido medicina legal, bem como ter sido comissário de polícia, nos anos 50 no subúrbio do Rio de Janeiro teria contribuído para o escritor compor histórias do submundo dentro dessa linguagem direta. Muito provavelmente devido a isso, vários dos personagens principais em sua obra são (ou foram) delegados, inspetores, detetives particulares, advogados criminalistas, ou, ainda, escritores.

Não deixem de reler o primeiro capítulo da apostila de vocês! Esse resumo serve para nortear o estudo.

Prosa Contemporânea Brasileira

1.CARACTERÍS-TICAS
 A partir de 1945, a narrativa brasileira inicia um processo de renovação. A produção em prosa é vasta, numerosos são os nomes que promovem a ficção nacional.
A literatura da atualidade apresenta várias tendências, dificultando uma esquematização. O romance e o conto apresentam a linha de introspecção e sondagem subjetiva. Em linhas gerais, a prosa contemporânea apresenta as seguintes características:
. O enredo tem importância secundária, pois o que interessa é a psicologia dos personagens.
. Predominância do tempo psicológico.
. Interessam as características psicológicas da personagem e não as físicas. A literatura não tem compromisso com a “realidade real”.
. A prosa urbana enfoca o conflito do indivíduo perante a sociedade. 
2.TENDÊNCIAS
1-Prosa regionalista: focaliza o meio e o homem rural brasileiro. (Luiz Antônio de Assis Brasil)
2-Prosa política: denuncia a violência política a que o país foi submetido após a Revolução de 30. (Josué Guimarães)
3-Realismo fantástico: são situações absurdas que fundem real e irreal. A origem dessa tendência está no Surrealismo. Essas situações servem como metáfora da realidade.(Mocyr Scliar, João Guimarães Rosa)
4-Prosa urbana: denuncia a solidão, a marginalização e a violência nos grandes centros. (Rubem Fonseca, Dalton Trevisan)
5-Prosa intimista: obras de sondagem psicológica. São personagens mergulhadas em si mesmas através das quais o autor  vasculha  interior do ser humano. (Lya Luft, Clarice Lispector)
6-Romance  reportagem: essa tendência, também chamada Jornalismo Literário, é chamada assim porque seus adeptos são jornalistas que se tornaram escritores. Por isso, sua linguagem é objetiva, crua, e os temas     giram em torno de denúncia da corrupção, da imoralidade, da marginalidade. (Rubem Fonseca)
 Na prosa, as últimas décadas assistiram à consagração das narrativas curtas - a crônica e o conto. O desenvolvimento da crônica está intimamente ligado ao espaço aberto a esse gênero na imprensa; hoje, não há grande jornal ou revista de circulação nacional que não inclua em suas páginas crônicas de Fernando Sabino, Lourenço Diaféria, Luís Fernando Veríssimo ou Rachel de Queiroz, entre outros.
 Perdas irreparáveis nos últimos anos: os cronistas Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Antônio Callado, Otto Lara Resende, Moacyr Scliar linha de frente de primeiríssimo time, que deixou de habitar as páginas de nossos jornais. Menção especial merece Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que, com suas bem-humoradas e cortantes sátiras político-sociais, escritas na década de 60, tem servido de mestre a muitos cronistas.
  Por outro lado, o conto, analisado no conjunto das produções contemporâneas, situa-se em posição privilegiada tanto em quantidade como em qualidade. Entre os contistas mais significativos, citam-se Dalton Trevisan, Moacyr Scliar, Samuel Rawet, Luis Fernando Veríssimo, Domingos Pellegrini Jr., João Antônio, Lígia Fagundes Telles, Luís Vilela, Nélida Piñon e Rubem Fonseca. Este ultimo lançou, em 1995, o seu mais recente livro de contos: O Buraco na Parede, coletânea de oito histórias que, explorando técnicas modernas de narrativa, retrata personagens que vivem alguns degraus abaixo do Brasil oficial.
3.O  CONTO       
    MODERNO
  A escassez de tempo e a agitação da vida moderna fizeram da narrativa curta a leitura preferida do grande público. Numa perspectiva bastante diferente daquela da narrativa longa, o conto focaliza elementos pertinentes ao ambiente e às personagens, através de uma estrutura que reúne tempo, espaço e ação.Nele encontramos descrição, diálogos e personagens em maior ou menor relevo, A ação e a atmosfera são descritas com regular concentração e brevidade. O assunto se desenrola dentro de um pequeno enredo, percebendo-se o tema através de ambos.
 A crítica moderna preocupa-se particularmente com o conto e a sua possível conceituação, geralmente caracterizado como “uma obra curta de ficção em prosa”.
Assim, o romance seria uma narrativa longa, a novela uma narrativa média e o conto uma narrativa curta. Na atualidade, o próprio conto está virando “miniconto” para alguns escritores, como Dalton Trevisan, por exemplo.
  Quanto aos tipos de narrativas temos:
Narrativa tradicional - a história é narrada segundo uma sequência temporal lógica: os fatos se sucedem na mesma ordem em que acontecem, o leitor vai conhecendo o assunto pela simples leitura linear do texto.
Narrativa moderna – a história é narrada dum modo fragmentado, os fatos não se apresentam na mesma ordem em que acontecem, o que aconteceu no passado mistura-se com o que está acontecendo no presente. Quer dizer, o autor fica saltando no tempo, indo e vindo, conforme o que quer contar.
Além de fugirem da estrutura clássica de princípio, meio e fim, os contos modernos refletem uma atmosfera abstrata, fantástica e mitológica, criando estruturas  narrativas diferentes. Mas, fundamentalmente, o conto é uma microvisão do mundo real ou imaginário do autor.  Em nossa literatura temos excelentes contistas, tanto na linha tradicional, quanto na moderna.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Proposta de redação – Intolerância religiosa

Com base na leitura dos seguintes textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em norma culta escrita da língua portuguesa, sobre o tema A tolerância bate à nossa porta exigindo ficar. Ser tolerante e coexistir com as diferenças é uns dos nosso maiores desafios neste século. apresentando experiência ou proposta de ação social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a defesa de seu ponto de vista.

O país, como a maior parte da América Latina, preserva direitos individuais e tolera as diferenças, segundo o Índice de Progresso Social de 2015

O Brasil é um país tolerante e com políticas de inclusão entre as melhores do mundo. É o que conclui o mais recente Índice de Progresso Social (IPS). Segundo o levantamento, indicadores brasileiros mostram elevados níveis de liberdade religiosa, apoio comunitário e tolerância com orientações sexuais diversas. Entre 133 países avaliados, ficamos num bom 24º lugar em “tolerância e inclusão” e num razoável 33º lugar em “direitos individuais”.

Apesar de episódios recorrentes de discriminação no Brasil, o país recebe avaliação positiva, principalmente em contraste com países da Ásia e da África que sofrem com conflitos diversos e falta de garantia de direitos individuais.
dasd

“Lembra-te que afinal te resta a vida
Com tudo que é insolvente e provisório
E de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório”
Carlos Pena Filho

Os cartunistas assassinados em Paris se converteram em mártires da alegria. Morreram em nome do direito que temos de rir de nossos semelhantes. Isso mesmo: um direito. A liberdade de pensamento, a liberdade de reunião e a liberdade de imprensa incluem a liberdade de sátira. A liberdade de fazer caçoadas em público. Na frente de todo mundo. Em pouquíssimas formas de expressão o tema da liberdade é tão sensível quanto numa anedota. Em sua forma breve, na fugacidade de sua graça instantânea, uma tirada sardônica talvez seja a expressão mais fiel de como a liberdade pode ser delicada, efêmera, indefesa como um lírio no campo. Se você quiser, um lírio com nariz vermelho de palhaço, mas ainda assim um lírio no campo. Vulnerável, gracioso, gratuito e engraçado.
das
O que o terror não aceita não é o que as pessoas fazem com a liberdade. O terror, como o totalitarismo, não aceita a existência da liberdade, independentemente do uso que cada um dará a ela. Assim, o terror não aceita a democracia. A simples possibilidade de que os encarregados de administrar a coisa pública, nossos negócios comuns, sejam eleitos por todos é incompatível com os fundamentos do terror. A democracia está assentada sobre a crença de que, se todos participam das decisões que afetam a coletividade, elas serão mais sábias e mais legítimas. O direito à educação e o direito à informação são uma decorrência lógica: sendo mais bem educado e mais bem informado, o cidadão estará mais preparado para delegar e fiscalizar o poder e, com isso, a democracia funcionará melhor. Também por isso, as liberdades de expressão, de culto, de pesquisa científica, de opinião, de reunião e de imprensa precisam estar garantidas. Se não há liberdade de expressão, de que modo poderemos conhecer as ideias uns dos outros? Eis por que sua liberdade depende da minha liberdade. Quanto maior a minha liberdade, maior a sua.


Alguns fatos de junho passado

1) No domingo passado, Kayllane Campos, de 11 anos, e outras sete pessoas voltavam de um evento religioso caminhando pela avenida Meriti, na Vila da Penha, quando dois homens que estavam em um ponto de ônibus do outro lado da rua começaram a insultar o grupo. Com Bíblias sob os braços, os agressores gritavam "Sai demônio, vão queimar no inferno, macumbeiros" e lançaram a pedra contra o grupo, segundo Kátia Marinho. A pedra bateu em um poste antes de atingir Kayllane, que chegou a desmaiar. Os dois agressores fugiram de ônibus.

2) Católicos, evangélicos, adeptos do candomblé, da umbanda e de outras religiões se reuniram em um ato contra a intolerância religiosa na manhã deste domingo (21 de junho), no largo do Bicão, na Vila da Penha, zona norte do Rio. A manifestação ocorre uma semana depois de a estudante Kayllane ter levado uma pedrada na cabeça quando voltava de uma festividade do candomblé. Cerca de 400 pessoas participam do ato neste domingo.
[UOL Notícias/Agência Estado]

3) Em 2014, o Disque 100 registrou 149 denúncias de discriminação religiosa no país. Mais de um quarto (26,17%) ocorreu no estado do Rio de Janeiro e 19,46%, em São Paulo. O número total caiu em relação a 2013, quando foram registradas 228 denúncias, mas, mesmo assim, mostra que a questão não foi superada no país. As principais vítimas são as religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda.
[Carta Capital]

Conceitos

Alguém já conceituou com propriedade: "A intolerância religiosa é um conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a crenças e práticas religiosas ou mesmo a quem não segue uma religião. É um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana."

Diante deste conceito amplo, poderemos, portanto, resumir como liberdade religiosa: 1) O direito de ter uma religião e crer num ser divino; 2) O direito de não ter uma religião e não crer em um ser divino; 3) O direito à neutralidade religiosa em espaços de uso comum (públicos).
[Michael Pereira de Lira, site JusBrasil]

Uma explicação
“O neopentecostalismo, em conseqüência da crença de que é preciso eliminar a presença e a ação do demônio no mundo, tem como característica classificar as outras denominações religiosas como pouco engajadas nessa batalha, ou até mesmo como espaços privilegiados da ação dos demônios, os quais se "disfarçariam" em divindades cultuadas nesses sistemas. É o caso, sobretudo, das religiões afro-brasileiras, cujos deuses, principalmente os exus e as pombagiras, são vistos como manifestações dos demônios.”
[Vagner Gonçalves da Silva, professor de Antropologia, USP]

Um ateu
Sou ateu e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos. (...) Fui educado para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne intolerante, autoritária ou violenta. Quanto aos religiosos, leitor, não os considero iluminados nem crédulos, superiores ou inferiores, os anos me ensinaram a julgar os homens por suas ações, não pelas convicções que apregoam.
[Drauzio Varella, Folha de S. Paulo]

Um debate
Para o pastor Sezar Cavalcante, reitor da Faculdade Teológica Betesda, de Campinas (SP), os evangélicos têm o direito de pregar contra as religiões de matriz afrobrasileiras, como a umbanda e o candomblé, desde que não usem de força –como invadir terreiros. Preceitos desses credos, como o culto politeísta aos orixás, seriam pecado, diz, se entendermos que pecado "é o que errou o alvo" de Deus, diz. Rodney William, doutorando em antropologia em PUC e babalorixá do terreiro de candomblé Ilê Obá Ketu Axé Omi Nlá (zona norte de São Paulo), argumentou que cada religião tem sua própria régua para determinar o que é pecado.
[TV Folha]

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Tira dúvidas: Uso dos pronomes demonstrativos



I. – Este, esse
1– Este emprega-se, quando o emissor se refere a um ser junto ou perto de si próprio. Esse emprega-se, quando o emissor se refere a um ser junto ou perto do receptor:
(a) Este dicionário é melhor do que esse.
(b) Esta ideia dá bom resultado, mas essa não dá.
2 – Este emprega-se, quando, em determinado contexto, o emissor indica um termo que se encontra mais perto da palavra ou das palavras que se estão a proferir do que outro termo com que, geralmente, se relaciona:
(c) Há dois países de língua portuguesa com ortografia distinta: Brasil e Portugal. Mas este é mais antigo do que aquele.
1. – Este emprega-se, quando apresentamos ou mostramos algo/alguém desconhecido. Esse emprega-se, quando nos referimos a algo/alguém de que já se falou:
(d) Este assunto, de que vos vou falar, interessa imenso.
(e) Nesse momento, o Sol brilhou e tudo iluminou.
(f) Esse homem não quis seguir os meus conselhos.
2. – Este emprega-se também para distinguir determinado ser de um conjunto já mencionado:
(g) Como vemos, esta história é mais interessante do que as outras.
II. – Isto, isso
1. – Isto indica um ser que se encontra junto ou perto do emissor. Isso indica um ser que se encontra junto ou perto do receptor:
(h) Isto que eu estou a comer é muito saboroso, mas isso que tens aí não presta.
2. – Isto emprega-se relativamente ao que se vai apresentar como uma novidade, desconhecida do geral das pessoas, ao passo que isso indica coisa já conhecida:
(i) Ora reparem bem para isto que vou dizer, e vejam como interessa a todos nós.
(j) Isso que se diz por aí é já sabido de toda a gente.
Nota. – A palavra «ser» tem aqui os mesmos sentidos que vemos na linguagem da filosofia, isto é, uma realidade qualquer: um ser vivo ou não vivo, como por exemplo uma mesa, uma ideia, uma invenção... (o que antigamente se chamava um ser imaginário), como vemos nas frases (b), (d), etc.
Estas regras são as fundamentais. Há outros casos. Um exemplo. Determinada mulher faz o que não devia fazer. A vizinha que é até sua amiga diz: Ai, esta mulher, esta mulher...!

O Barroco

Leia este post, que complementa informações da apostila e comente seu entendimento, de forma coerente, nos comentários abaixo. Cada aluno deverá expressar sua opinião, no mínimo, uma vez e incentivar a discussão dos temas barrocos. (data limite para os comentários: 28/08/2015.)

A participação valerá nota ao fim do bimestre.

Barroco no Brasil
Igreja de São Francisco, em Salvador, com frontão de característica barroca
No século XVIII, o Brasil presenciou o surgimento de uma literatura própria a partir dos escritores nascidos na colônia, quando as primeiras manifestações valorizando a terra surgiram.

Contexto Histórico

Os fatos históricos fundamentais da época foram a Primeira invasão holandesa, que ocorreu na Bahia, em 1624, e a Segunda, em Pernambuco, em 1630, que perdurou até 1654.

As invasões aconteceram na região que concentrava a produção açucareira.
A produção literária não foi favorecida nesse período, pois a disputa pelo poder no Brasil era evidente e chamava toda a atenção.

O Barroco surgiu nesse contexto como fruto de esforços individuais, quando os modelos literários portugueses chegaram ao Brasil.
A arte que se desenvolveu com mais força foi a arquitetura, mas a partir da segunda metade do século as artes sofreram impulso maior.

Costuma-se considerar a publicação da obra Prosopopéia (1601), de Bento Teixeira, como o marco inicial do Barroco no Brasil. Esse é um poema épico, de estilo cancioneiro que procura imitar Os Lusíadas.

Os autores barrocos que mais se destacaram são:
- Gregório de Matos (na poesia);
- Pe. Vieira (na prosa);
- Bento Teixeira;
- Frei Manuel de Santa Maria Itaparica;
- Botelho de Oliveira;
- Sebastião da Rocha Pita;
- Nuno Marques Pereira.

Gregório de Matos (1636 – 1696)

Gregório de Matos é o maior poeta barroco brasileiro, sua obra permaneceu inédita por muito tempo, suas obras são ricas em sátiras, além de retratar a Bahia com bastante irreverência, o autor não foi indiferente à paixão humana e religiosa, à natureza e reflexão.
As obras desse escritor são divididas de acordo com a temática: poesia lírica religiosa, amorosa e filosófica.

- A lírica religiosa: explora temas como o amor a Deus, o arrependimento, o pecado, apresenta referências bíblicas através de uma linguagem culta, cheia de figuras de linguagem. Veja que no exemplo a seguir o poeta baseia-se numa passagem do evangelho de S. Lucas, quando Jesus Cristo narra a parábola da ovelha perdida e conclui dizendo que “há grande alegria nos céus quando um pecador se arrepende”:

A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
da vossa alta clemência me despido;
porque, quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido
vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida, e já cobrada
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na sacra história,

eu sou Senhor, a ovelha desgarrada,
cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
perder na vossa ovelha, a vossa glória.
(Gregório de Matos)


- A lírica amorosa: é marcada pela dualidade amorosa entre carne/espírito, ocasionando um sentimento de culpa no plano espiritual.

- A lírica filosófica: os textos fazem referência à desordem do mundo e às desilusões do homem perante a realidade.

Em virtude de suas sátiras, Gregório de Matos ficou conhecido como “O boca do Inferno”, pois o poeta não economizou palavrões nem críticas em sua linguagem, que além disso era enriquecida com termos indígenas e africanos.

Eis um exemplo dos muitos “retratos” que Gregório de Matos compôs:

Soneto

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa. Escuta, espreita, e esquadrinha,
Para levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda picardia.

Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.

Nesse texto o poeta expõe os personagens que circulavam pela cidade de Salvador - conhecida como Bahia- desde as mais altas autoridades até os mais pobres escravos.

*Texto retirado do Portal educação.