Quanto à padrões estilísticos e temas, a prosa contemporânea segue aberta e livre de categorizações enquanto escola literária. Diferente dos demais movimentos literários, a contemporaneidade surge com a mesma "sede" de inovação impulsionada pelas Vanguardas Europeias, que culminaram na Semana da Arte Moderna.
No cenário sócio-histórico-cultural, o país vivenciava momentos de tensão, repressão e insegurança, uma vez que nas décadas de 60 a 80, o Brasil passava pelo Regime Militar. Nesse contexto de sufocamento das Artes em geral, a Literatura se fez marginal, revolucionária e buscava refletir em seu âmago todos esses sentimentos reprimidos pela censura.
Assim, os temas trabalhados e ilustrados nesse período passaram a ser diversos e voltados para a questão da sociedade em si. Surge então histórias baseadas na realidade violenta, em personagens marginalizados, em problemas cotidianos bem como a natureza do ser humano frente às diversas situações correntes em sua existência. Os contos predominam a produção escrita nesse período.
Como já mencionado, os escritores desse movimento não mantiveram padrões estéticos semelhantes em suas produções, o que acabou por gerar algumas vertentes distintas que figuravam o cenário literário da época.
Dentre as mais recorrentes, pode-se citar a vertente brutalista, cuja preocupação era expor e apresentar de forma impactante a violência dos centros urbanos bem como a condição marginalizada da classe menos favorecida. Sua linguagem é bem próxima à oralidade e sua construção textual é pobre em adjetivos e permeada por frases curtas. Como principais representantes, temos Rubem Fonseca e João Antonio.
Temos ainda os romances históricos, que se sobressaíram como reflexo do Golpe militar de 1964, cujos tema era a repressão e as torturas vivenciadas pelos grupos reacionários. Como exemplo dessa vertente, temos Fernando Gabeira, que em seu livro, "O que é isso companheiro", descreve bem toda essa luta.
Por fim, têm-se ainda a vertente intimista que se volta para o ser humano enquanto indivíduo subjetivo e ativo no processo de construção de sua imagem perante os conflitos em que é exposto. A prosa de Lygia Fagundes Telles é exemplo dessa tendência.
Importante ressaltar que diversas outras vertentes existiram nesse momento em caráter simultâneo.
(Kyssila Melo Macêdo)
Características de alguns autores
Dalton Trevisan, o polêmico vampiro de Curitiba, apresenta algumas características:
- linguagem elíptica, rápida (conhecido pela introdução dos minicontos em nossa literatura).
- uso do sexo e da violência extrema.
- discute sobre o anonimato do homem comum nas grandes cidades.
- heróis sem heroísmo.
- personagens perturbados e com moral discutível.
- os homens são vistos como conquistadores cafajestes.
- as mulheres aparecem como meros objetos sexuais. Há uma preferências pelas desajustadas: gordas, velhas, feias, prostitutas.
- uso de linguajar chulo, quase pornográfico.
Lygia escreve investigando os recantos da alma humana , em sondagem psicológica permanente . -Seus personagens em particular os femininos , são misteriosos e complexos, marcados pela reflexão e pela fragilidade, mais também pela inquietação.
-Procura apresentar com a palavra escrita a realidade envolta na sedução do imaginário e da fantasia.
João Antônio foi o intérprete do submundo, o escritor da marginalidade. Seus personagens são as criaturas que vivem na periferia das grandes cidades e da vida, operários, biscateiros, soldados, crianças abandonadas ou quase, prostitutas, pedintes, homossexuais, jogadores de sinuca, desempregados, gente que se reúne nos cenários da periferia, vilas e favelas com seus botequins, seus campos de pelada e as diversas curriolas do vício e do crime. Rio de Janeiro e São Paulo são apresentados ao leitor não como o cartão postal a que está acostumado, mas no conjunto espantoso de seus contrastes e na extraordinária vibração humana de seu cotidiano. Sua linguagem é a um só tempo elaborada e malandra, o que a tornaria única na literatura brasileira, não fosse a companhia de Plínio Marcos a trilhar pelo mesmo caminho. Mas, apesar da escrita elaborada, não se espere de seus personagens sentimentos falsos ou esperança de redenção: a realidade é tratada de forma lírica, mas sem dissimular seu lado cruel.
Não deixem de reler o primeiro capítulo da apostila de vocês! Esse resumo serve para nortear o estudo.
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